Com 75 anos, a escritora chilena Isabel Allende revelou recentemente estar vivendo um novo amor. E ela não está sozinha. Cada vez mais idosos têm enfrentado o preconceito da família e da sociedade e atualizado o status “em um relacionamento”. De acordo com especialistas, as relações na terceira não têm contraindicação e trazem uma série de benefícios psicológicos. Neste Dia dos Namorados, o dito “o amor não tem idade” não deve ser encarado como um simples clichê, mas como um realidade vivida ativamente.

A aposentada Maria de Fátima Negreiros, 69, contou que quando assumiu pela primeira vez um namoro depois da separação, se sentiu envergonhada. “Sempre fui legal com meus filhos, mas não foi muito normal, a gente fica um pouco com vergonha, se eles iam aceitar; não gostaram no começo, mas depois se acostumaram; hoje converso com eles sobre tudo”, disse. As sensações ao voltar a ter um namorado depois de tantos anos foram as melhores possíveis. “Foi muito boa, me senti útil, feliz, porque a pessoa que está com a gente trata bem e gosta”.

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“A vida sexual ativa e a afetividade mútua proporcionam melhora na qualidade de vida. Ter alguém para amar e se sentir amado, contribui para a diminuição da depressão, estresse e outros problemas de saúde”, comentou a psicóloga e especialista em gerontologia e saúde do idoso, Margareth dos Santos Presa.

Segundo a psicóloga, em muitos casos, as relações na terceira idade não tratam o sexo como prioridade. “Especialmente para as mulheres, o mais importante é a companhia, ter um parceiro para dividir momentos positivos e negativos da vida. Não ficando o sexo em primeiro lugar”, explicou.

Para Fátima Negreiros, o início de um relacionamento na terceira idade é diferente da paixão vivida em outros anos. “Se apaixonar a gente não se apaixona não, já passou por uma vida, levando as coisas numa brincadeira, quando não dá certo manda embora, sou muito decidida”, disse. Ativa, a aposentada frequenta o Centro de Convivência do Idoso, no bairro Aparecida, e foi lá que ela conheceu o primeiro namorado. “Ele frequentava o parque do idoso, a gente dançava muito, saía muito, mas não deu certo, hoje tô solteira, tô me amando”, afirmou.

Tabu e preconceito

Mas, antes de conseguir colher estes frutos, os idosos precisam enfrentar uma batalha consigo mesmo. “O namoro e o sexo na terceira idade ainda são vistos como tabus para a maioria dos idosos que se sentem constrangidos e inibidos em expressar espontaneamente, em público, seus sentimentos em relação ao parceiro”, afirmou a supervisora técnica e especialista em gerontologia e saúde do idoso, Lucineide Ribeiro.

O receio dos idosos está intimamente relacionado à interpretação equivocada de que os idosos não tem vida sexual ativa, segundo a especialista em gerontologia. “Essa dificuldade deve-se em grande parte a nossa cultura que por, muitos anos, considerou a sexualidade vinculada à procriação, ao mito de que com o envelhecimento a pessoa não sente mais prazer, passando a ficar assexuada”, afirmou. Ribeiro acrescenta que “quando os idosos superam estes estereótipos e preconceitos conseguem aproveitar melhor os momentos prazerosos de estar com o outro”.

Além de vencer o constrangimento pessoal de assumir um relacionamento e o preconceito da família e da sociedade, a terceira idade também precisa lidar com às expectativa em relação ao namoro. “Tem as questões psicossociais relacionadas ao medo de que um novo relacionamento não atenda às expectativas e culmine com desfecho, que cause sofrimento, e a dificuldade de aceitação de novos parceiros, pela família, especialmente, filhos”.

Os idosos precisam lidar, ainda, com as mudanças biológicas, como dificuldade de ereção, impotência para os homens, e incômodos provocados pela atrofia urogenital, no caso das mulheres, segundo Ribeiro. Além disso, o desejo e apetite sexual podem diminuir devido a questões biológicas e psicológicas. “Sabe-se que o organismo envelhece como um todo e mudanças quanto a ereção para os homens e flutuações hormonais, ressecamento vaginal nas mulheres, podem interferir na vida sexual. Porém, o mais importante é o amor, a cumplicidade, o carinho, aconchego que transcendem o sexo em si”.

Fonte: http://amazonasatual.com.br/o-amor-nao-tem-idade-provam-idosos-que-voltaram-a-viver-um-grande-amor/

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